sexta-feira, 17 de julho de 2009

Viagem animal

Nessa ida ao Zoológico do Rio, imaginei o que podia se passar na cabeça dos bichos presos vendo esse bando de humanos desfilando perante suas jaulas. Que mundo eles criavam para suportar espaços tão exíguos. A liberdade, a vida selvagem, a natureza estão no DNA deles. Não adianta esse papo de nascido em cativeiro que não cola comigo. Eles têm que suportar condições insuportáveis. Claro que muitas vezes muito mais dignas que em muitos presídios. Mas a exibição de animais é muito mais interessante que a de seres humanos julgados e condenados pelos seus crimes.

Aliás, pensei que uma das possibilidades para os animais se auto-iludirem e se conformarem com o cárcere era essa. Imaginar crimes cometidos. "Matei uma minhoca e mereço estar preso". Sei lá. Vale tudo para aguentar o cativeiro. Outra possibilidade era a inversão de papéis. Os animais pensarem que "quem estão presos são eles, esses humanos aí. Não nós". É... Pior que com esse argumento eles não deixam de ter uma certa razão.

Outra. Pagar mico ninguém paga oficialmente. Mas extra-oficialmente... Quanto mais tirando fotos... "Meu Deus... não vou me prestar a fazer isso nunca", pensou o urso ao ver uma família inteira tentando fazer rir a menininha de não mais que 1 ano de idade. "Deixa eu quieto aqui nessa minha bem instalada piscina", confabulou o sogrão urso.

E pior é a hora que eles, os animais, querem sacanear. O leão por exemplo, combina com a leoa de rugirem para atrair aqueles animais esquisitos com luzes esquisitas que quase cegam o rei da selva. Ao rugir, ele conversa com a dona leoa da jaula ao lado: "vou chamar esses bobões aqui para ver a gente. Escolhe aí o idiota da tarde". A leoa prontamente responde olhando para mim: "é esse aqui de blusa branca, com cara de mineiro danada e uma máquina de retrato preta e pretensiosa com uma barba estranha". Era eu, poxa! Que injustiça! Mas não deu para argumentar. Não quiseram papo comigo. Apelaram para a gritaria. E, claro, não ia encarar nem chamar essas feras para resolver o caso"aqui fora". Não ia dar certo. Enquanto conversavam aos brados, mais humanos se acotovelavam e brigavam para ver o diálogo. Não bastava ouvir.

Num instante o Zoológico sabia da nossa presença. Não é pretensão não. É que eles não aguentam quem tem a "filosofia animal" que eu tenho e espalham para a fauna presente. Ficar preocupado com o bem estar e com o alto astral dos bichinhos, isso é muita frescura para eles. Feras selvagens e implacáveis. Eles não perdoariam ninguém que caísse na jaula. Nem os mais sensíveis às causas animais. Estão certos. Mesmo porque não foram feitos para estarem ali.

Enquanto isso, assim que chegamos no corredor dos primatas, a macaca vira de costas e pratica ioga aprendida num manual jogado pela milésima porca do dia, 95 dias antes. E faz com perfeição de mestres iôgues. Só falta querer ir para Índia agora. Mais crível seria pegar uma ponta na novela das 7. Se tiver na das 6 vale . Até na Rede Brasil a primatinha topa "para começar carreira". (você não imagina a inveja profunda que a macaca-artista da novela provoca nas pares...) Big Brother então... vai enviar a 9ª fita. Não consegue uma boquinha. E olha que já tentou um lero com o filho do Chacrinha que sempre passa por lá. Eu voto na chimpanzé zem, ou melhor, a chimpanzem, para o próximo reality show. Se não for o BBB, que tal criarmos a Selva para suceder a Fazenda. Aliás, a Fazenda poderia se chamar Pantanal pois está doida para ir para o brejo.

Enquanto isso, alguns urubus davam razantes às gargalhadas, rindo da pouca sorte dos seus companheiros enjaulados. Quando o Urubu Rei chamou atenção dos súditos livres ligando de um celular contrabandeado por um tratador: "Hei, plebeus, estou preso sim mas minha comida é muito mais gostosa que a sua". Tomara. Pelo menos isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário