sábado, 26 de outubro de 2013

ERAM OS DEUSES MÚSICOS BRITÂNICOS?

A música para mim é a mais perfeita forma para se chegar a Deus. Uma forma de materializar Deus. Entre tantos iluminados estão Beethoven, Milton Nascimento, Mike Oldfield, Marillion, Fish, Chico, Elis e todos aqueles que fazem arrepiar e emocionar, preenchendo nossas almas. São muitos. Mas uma dos mais especiais, profundos e que tem uma conversa com Deus em cada nota, em cada música é o Black Sabbath. Parece irônico que uma banda que foi - erroneamente - tão perseguida por promover o coisa ruim seja para mim uma forma tão próxima de Deus.

O interessante da minha história com o Sabbath é que ela começa com minha irmã, Nadja, em 1975, quando ela compra o Volume 4 e o Sabotage. Passa também por todos os irmãos. Mário e Alexandre e, em especial, o Zé Eduardo, que, em 1983, me apresenta o Born Again. Até então era radicalmente MPB. Milton, Chico, Beto Guedes etc. e olhe lá!

Numa noite de 83, ouvindo o então novo disco - com Ian Gillan no vocal - no quarto da Nadja, o Zé Eduardo traduziu uma letra que me tocou profundamente e mudou minha forma de ver a vida. Isso me fez buscar a história da banda. Depois veio Marillion, a carreira solo do Ozzy, Rush e outros. Sem nunca abandonar os nossos brasileiros. Comprei tudo. E em uma época que o Sabbath era motivo de chacota. E foi durante muito tempo. O ressurgimento para o grande público veio com as bandas de Seattle - Nirvana, Alice in Chains, Soundgarden além de Metallica, Faith No More, Sepultura e tantas outras que tinham no Black Sabbath - e não nos preciosos Led Zeppelin e Deep Purple - sua principal referência.

Saltando da década de 1980 para a data do show mais esperado da minha vida. E ela era simbólica. 13. De outubro. De 2013. O polêmico e místico número do nome do disco de retorno do Black Sabbath. O show foi absolutamente perfeito. De uma simplicidade desconcertante. De um peso e em uma harmonia exemplares. Nenhuma briga. Um astral altíssimo na Praça da Apoteose (Apoteozzy é perfeito mas reduz muito!). Todos cantando em uníssono. Sem firula alguma. Sem pirotecnias. Emocionante em cada música. Um show baseado no som denso e verdadeiro de quatro caras que eram pobres em Birmingham, Inglaterra, que, desde sempre, desde sua origem, quiseram fazer um som que nunca ninguém tinha feito. E fizeram.

Faziam o que acreditavam - e maravilhosamente continuaram fazendo até hoje. As letras são excelentes e inteligentes. Desde 1970 continuam atuais. São ousados. Eles são únicos pois se propuseram a isso. Tony Iommi e Geezer Butler relatam, por exemplo, que os técnicos, quando ouviam o som da guitarra e do baixo separados, falavam que estava errado. E eles explicavam que o só funcionava mesmo, do jeito que eles queriam, juntos.

Fica aqui meu agradecimento, respeito e admiração por esses 4 (o que inclui o genial Bill Ward - fora de corpo - e por motivos de saúde - mas sempre presente de alma) - que me ajudaram tanto a me aproximar ainda mais de Deus.

sábado, 13 de julho de 2013

Deus está morto? (ou God is Dead?)



A despeito do que sempre apregoaram erradamente do Black Sabbath, eles não têm e nunca tiveram relação com o coisa ruim. Pelo contrário. O som que eles fizeram na década de 70 com Ozzy-Iommi-Butler-Ward foi uma das coisas mais próximas de Deus (ou seja, do bem) que humanos já conseguiram chegar. Nisso inclui Beethoven, Milton Nascimento, Led Zepellin e muitos outros nomes e conjuntos.

Foi uma conjunção astral. E agora estão de volta. Sinto profundamente a falta de Ward. O ciclo não fecha. Mesmo assim soam geniais e únicos. Inspirados e fortes. E é incrível. Sempre à maneira bruta e "anti-social" que só eles conseguem. As músicas para serem entendidas devem ser ouvidas dezenas de vezes. Eles vão tão além que muitas vezes demoramos a chegar na vibração que eles estão. Mas depois, companheiro... Não dá para sair mais.

As letras também sempre me atraíram. Eles sempre foram preocupados com a preservação do planeta muito, mas muito antes de se tornar pauta mundial e cadernos permanentes nos jornais. A relação com religiões, as incertezas da vida, os horrores da guerra, os desafios do amor. 

Disse isso tudo para falar da primeira música que eles lançaram do novo disco 13, uns 45 dias antes do lançamento do álbum, que rolou dia 12 de junho agora. God is Dead? Inspirada nas loucuras que se desenharam no mundo desde 11 de setembro, questionam se Deus está morto. Há motivos para isso. 

E essa é a grande sacada para todos nós sabermos que Deus pode estar morto nos corações de quem perde a esperança. Nas pessoas que não fazem o bem. Quando não se ama, quando não existe respeito. Quando não se coopera, participa, dá força e ajuda. Deus nunca morreu e nunca morrerá - e o Black Sabbath acredita nisso. Todos nós acreditamos.

Deus está vivo. Mais vivo que sempre. É isso que a música pede. Pra que cada um de nós mostre àqueles que querem fazer a humanidade pensar que Deus está morto, que ele vive forte, muito forte em cada um de nós. Deus vive pleno apesar de todas as atrocidades que os homens insistem em fazer. Essas atrocidades não chegam aos pés de Deus que pratica sua grandeza e bondade a cada dia, a cada minuto, a cada segundo. Em silêncio. Em palavras. Em músicas. Nos meus olhos.

sábado, 8 de junho de 2013

NOJO DE JANEIRO

De longe, o Rio de Janeiro é a imbatível cidade maravilhosa. Mas só de longe. A primeira memória da minha infância que tenho na chegada pela avenida Brasil foi aquele cheiro insuportável. Nunca entendi como os moradores poderiam aguentar odor tão terrível. Isso foi em 1978! 

Depois me assustava a fama de violência que logo foi sendo domada com o costume de visitar ainda mais a cidade com minha eterna namorada , carioca de nascimento e frequentadora assídua de sua terra Natal.

O incrível é ver todos os vícios e mazelas persistirem até hoje. Dá nojo continuar sentindo aquele cheiro insuportável na chegada, agora pela Linha Vermelha. Dá nojo ver a lagoa Rodrigo de Freitas maravilhosa e suja desde sempre. 

Dá nojo ler no jornal que a praia do Leblon e São Conrado, por exemplo, até hoje são impróprias para banho. Dá nojo ser explorado pelo profissional da Prefeitura cobrando o dobro para estacionar o carro no bondinho do Pão de Açúcar. 

Dá nojo tentar denunciar e uma gravação ao telefone que consta no cartão de estacionamento informar que o número não existe. Dá nojo pegar um táxi e temer que você será ludibriado. Dá nojo a sujeira nas ruas, o cheiro de urina, o zoológico decadente, a terra de ninguém (sempre de alguém), a exploração dos preços na praia, a falta de táxi, a insegurança eterna, corrupção, o levar vantagem em tudo, certo? 

Vem copa - e o Maracanã não fica pronto.  Agora é o Engenhão que está quebrando. Vem Olimpíadas. Essa é a esperança. É essa a esperança? Do fundo do meu coração, tomara! 

Mas sinceramente não sei. Tolerar tudo isso faz parte da alegria tão propalada dos cariocas? Será que essa tolerância é cultural? A tolerância para o mal feito, para o mais ou menos, para o baixo padrão?

O que me assusta e dá mais nojo, é que tudo isso que eu relatei eu vejo desde os 9 anos de idade. 34 anos depois, isso mesmo, 34 anos depois, continua igual. Cariocas do meu Brasil, estou mentindo? Até quando?

Essa é uma carta de amor ao Rio, que dá alguns sinais de que quer melhorar e não pode perder essa oportunidade histórica de virar o jogo. É uma carta de repúdio à tolerância, ao jeitinho e à incompetência do poder público e privado.