domingo, 1 de fevereiro de 2009

Dueto com Gil

Milton e Gil estavam gravando o Gil & Milton que lançaram juntos em 2000. E aconteceram dois momentos muito especiais num ensolarado Domingo de Março, desse mesmo ano, que eles se reuniram na casa do Milton. O encontro era para acertar os últimos detalhes da reta final do trabalho. Eu e a Bebel tínhamos passado o final de semana lá na bela casa do Itanhangá, no Rio. Como já falei em outros posts, além de muito amigo, sou muito fã do Milton.

E o primeiro momento desse Domingo foi um pedido do Milton para eu montar, numa fita cassete, a música que ele havia acabado de compor para que ele desse para o Gil colocar a letra. Ela virou Lar Hospitalar no disco. Foi emocionante como é para qualquer fã. Você ter na mão a gravação original, purinha, da criação do seu ídolo. E ser o responsável pela montagem! A primeira parte deveria se repetir após a segunda. E o Milton, que sabia que adorava gravar fitas (quantas fitas especiais a Bebel não tem...), me chamou para fazer esta honrosa mixagem.

Estávamos na piscina quando chegou o Gilberto Gil com sua esposa Flora. Eles ficaram conversando com o Milton sobre os próximos passos e depois eu e Bebel nos juntamos a eles. Mais uma honra! Ouvir detalhes que sairiam no disco deles! - quem é muito fã sabe do que estou falando, que emoção é essa. Papo vai papo vem, é bom salientar que a regra de ouvir mais e falar menos nós conseguimos aplicar - com dificuldade, é verdade.

Num determinado momento, Gil disse que, saindo dali, ia para o aeroporto embarcar para Portugal onde participaria de um Congresso sobre Energia. Na hora, me veio à cabeça uma música dele Um sonho. Ela foi gravada pela primeira vez, em 1979, pelo Quinteto Violado (aliás, o site deles é ótimo - http://www.quintetoviolado.com.br! Consegui achar o disco que tem essa música! É Poligamia do Baião). Na época, a então namorada do meu irmão José Eduardo, havia emprestado esse disco para ele. E essa música é maravilhosa. Em pouco tempo já sabia de cor! O Gil só gravou pela primeira vez em 1991 no Parabolicamará.

Citei o trecho da música que começa "Eu tive um sonho / que estava certo dia /num congresso mundial /discutindo economia". E ele emendou e começou a cantar a música junto comigo. Cantamos a música inteira. Juntos. Ali à capela! E lembrei da letra quase toda. Onde eu esquecia ele completava e vice-versa. Terminou com Gil levantando os braços e evocando "Viva o índio do Xingu!" com toda empolgação!

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Ps.: Abaixo, a letra toda da música

Um Sonho
Gilberto Gil

Eu tive um sonho
Que eu estava certo dia
Num congresso mundial
Discutindo economia

Argumentava
Em favor de mais trabalho
Mais emprego, mais esforço
Mais controle, mais-valia

Falei de pólos
Industriais, de energia
Discuti de mil maneiras
Como que um país crescia

E me bati
Pela pujança econômica
Baseada na tônica
Da tecnologia

Apresentei
Estatísticas e gráficos
Demonstrando os maléficos
Efeitos da teoria

Principalmente
A do lazer, do descanso
Da ampliação do espaço
Cultural da poesia

Disse por fim
Para todos os presentes
Que um país só vai pra frente
Se trabalhar todo dia

Estava certo
De que tudo o que eu dizia
Representava a verdade
Pra todo mundo que ouvia

Foi quando um velho
Levantou-se da cadeira
E saiu assoviando
Uma triste melodia

Que parecia
Um prelúdio bachiano
Um frevo pernambucano
Um choro do Pixinguinha

E no salão
Todas as bocas sorriram
Todos os olhos me olharam
Todos os homens saíram

Um por um
Um por um
Um por um
Um por um

Fiquei ali
Naquele salão vazio
De repente senti frio
Reparei: estava nu

Me despertei
Assustado e ainda tonto
Me levantei e fui de pronto
Pra calçada ver o céu azul

Os estudantes
E operários que passavam
Davam risada e gritavam:
"Viva o índio do Xingu!

"Viva o índio do Xingu!
Viva o índio do Xingu!
Viva o índio do Xingu!
Viva o índio do Xingu!"


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